sábado, 26 de novembro de 2011

Preces de quem almeja uma vida digna

Destino, não mintas para mim. Não pretendo ser cúmplice dos teus atos heróicos e mesquinhos. Deixa-me de cabeça fria. Faz com que eu cresça a cada segundo e não me iludas com essa história de vida vazia. Me rendo aos teus caprichos, coração. Mas vê se te interessa pela matemática, e não anda em paralelo ao coração, mas aprende as propridades da multiplicação e me proporciona rígida resistência pra sentir eternamente as fagulhas da paixão. Dá-me o conhecimento preciso para ter o que preciso, seja o que for que eu mereça, razão. Entra pela cabeça e sai na alegria de uma vitória e na compreensão de um resultado ruim. Vai, experiência, toma a frente e te opõe contra os vícios e contradições. Chega, primavera, cada dia a florescer no jardim da minha alma e habita meus sonhos. Vai embora, saudade. Leva correspondências pra quem mora longe. Mas volta e traz contigo qualquer marquinha de um amor que já está acima de mim. Agora, pensamento, cala-te e deixa que os ventos me levem pra qualquer lugar. O melhor que eu mereça estar!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

UM CONTO DE NATAL

Entregador de Pizzas
Eu vi meu pai de unhas pintadas. Juro. Garanto. Fotografei! Estavam pintadas em um tom de verde puxado um pouco para o amarelo. Foi assim: Voltei de meu curso noturno, sentei-me ao pé da mesa de jantar, acostei as costas, debrucei-me a acariciar minha gatinha que descansava ao relento. Num clima romântico e exaustivoi diário, pude sentir o cheirinho de bafo de leite que saía, de instante em instante, da boca do felino, meu refúgio.
Não me bastava ficar quieta, mimando Mimi, sentindo o bafinho. Meu pai, de repente, senta à mesa com as unhas coloridas. Na hora senti pena. Em simultâneo, quis escorregar das costas da cadeira até desembocar no chão. Motivos tive. Me faltou coragem. Sobrou complacência, solidariedade.
"Pai, que tu fizeste em tuas unhas?" ou "Quem as decorou?", pensei em largar uma dessas e sair correndo. Pensei mais um pouco, baixei a cabeça. Ergui-a novamente, fietei seus olhos e me finei de tanto que ri. Algo me acalmou: Também riu.
- Antes que me interrogue, respondo-te, querida: Em véspera de Natal os comerciantes têm que vender cosméticos a qualquer custo. E hoje, para minha infelicidade, Alicinha estava doente e ausentou-se no serviço. Conclusão: Tive a primeira e última chance de me sentir mulher. Cheguei a bailar com as pitangueiras na beirada do asfalto, vestindo a nudez destes vestidos floreados dos quais gostam tanto. Senti um friozinho descomunal. Imagina, Clarinha, teu pai vestido do avesso.
- Não mente pra mim, pai.
- Não menti.
A menina ficou parecendo um pimentão com dentes de propaganda da Colgate.
"Ding dóing".
Clarinha ajeitou Mimi para o lado, gozou mais um pouco de seu pai e lançou-se bruscamente para abrir a porta. Abriu-a. Parecia um entregador de pizza. A menina fez uma cara de "ponto de interrogação" , agradeceu disse que só podia ser engano, pois sua mãe estava preparando um Peru para a ceia. Ainda xingou o vendedor e chutou eu pé esquerdo. "Não dá uma de burro, guri. Tens que trabalhar em dia ruins. Hoje é véspera de Natal" Comemora com tua família!". Ele olhor sem entender, sorriu e foi embora, deixando uma caixa de papelão sob seus olhos.
Ela negligenciou a caixa. Largada, ao chão, ficou.
Seu pai ouviu alguns sermões e dirigiu-se à porta para investigar o que havia acontecido.
- Um entregador de pizzas, pai. Veja se pode! Em véspera de Natal!
- Não era teu tio?
- Meu tio vende pizza?
- Na verdade, não. Mas tem um nariz grande igual ao daquele moço.
Muitos risos invadiram a "cena do crime". O pai de Clarinha era careca. Hilário.
Em 24 de dezembro, a família não tão rica nem tão pobre comemorou mais um Natal. O 13º da menina. Todos os anos é comtemplada com um ou dois presentes, os quais sabem de onde vêm. Mas ainda espera o velhinho. Seu sonho é conhecê-lo. Parece ainda criança, e tem o brilho dos olhos tão saliente. Sua gatinha ganha um ossinho como prova do inigualável amor que nunca será capaz de oferecer a ninguém senão a ela.
Abriu a janela do quarto. Vislumbrou o brio das estrelas junto de uma a cair. Seus dentes espelharam-se no reflexo daquele brilho. De repente, Clarinha viu uma caixa de papelão pairando na imensidão estrelada. Logo mais, avistou um nariz acentuado, tapado por um gorro vermelho.
"É o entregador de pizza!"