terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Não sei se posso voltar...

Senti cheirinho de chuva. Logo despertou-me a vontade de voar. Abri a janela e, num impulso imediato, alcei voo. Comigo foram os sonhos, a saudade e o prazer de estar ali. Tive coragem de fugir e encarar o mundo de frente, mas olhei para trás e pechei na escuridão. A solidão me cutucava, inquieta, mas era plana e não me detinha. Sobrevoei lindas paisagens, cercada de um azul escuro vazio. Confesso: tive medo quando chegou a primavera. Me vi fracassada diante da beleza das flores. Têm espinhos que as cortam, mas não fogem deles. Sentem o sol, mormacento, queimando. Por vezes a água de que lhes é regada faz-lhes estremecer de frio. Sentem medo, como nós, do temporal. Mas cravam raízes e não têm antídoto para a dor. Aguentam firme. Não pensam em voar.
Quanto tempo perdi nesta viagem! Quantos amigos ficaram para trás... Não soube driblar a vida, almejei jogar com as nuvens indefesas e não tenho mais o controle do jogo. Esse jogo duro, que se chama vida. Os problemas me fizeram perder a verdadeira razão. Se voltar ainda terei aconchego? Ou apenas razões inventadas para querer voar?