sexta-feira, 5 de agosto de 2011

"O que sou e o que pareço"

Me veem assim. Será que sou deste jeito?
Eu sou tudo o que tu não vês. Eu sou tudo o que está por dentro de mim; inacessível aos olhos alheios. Meus gestos dão a ideia de uma estrutura cardíaca rígida, forte, correta e fria. Quem ouve minhas gargalhadas e repara nas coisas que faço com competência me considera, de cara, uma pessoa sem problemas, perfeita, cheia de ideias descomunais, que nunca levantou a voz a uma autoridade em sua vida. Quem me vê de mal-humor, ainda assim vê-me a sorrir. Quem já viu uma lágrima qualquer rolando pelo meu rosto, pode ter certeza, é uma das pessoas a quem mais confio meus segredos e meu calcanhar de Aquiles. Será, Aquiles, um fracote de calcanhares e canelas magérrimas, onde só há osso oco e frágil? Ou um homem sério, com partes do corpo abundantes, tais como seu calcanhar, mas onde só carne podre há?
Continuando... Como alguém pode ser assim? Entrar em um assunto, desambarcar noutro e ter como destino um ainda diferente? Geminianos, julgam-nos assim. Quem ouve minhas besteiras não cita minha rigidez em equipes de trabalho de escola; respeita minhas ideias, por mais que note o quão absurdas são na raiz. O caule está à amostra, tal como as folhas... Mas e a madeira clarinha que existe por dentro?
Há muito pouco aprendi a não escutar músicas melancólicas a favor da alimentação e estímulo do choro. Aprendi a apartar as coisas sérias das idiotices, por mais que eu não consiga ser exatamente séria a todo tempo. Aprendi a deixar de preservar a identidade... Afinal, por que mesmo? Tenho a vida inteira pela frente, e uma vez que eu lato no meio da rua aglomerada de seres humanos não tira de mim a seriedade com a qual lido com os problemas e responsabilidades. O certo seria ter vergonha de se atirar no chão? De que importa o sentido de minha vida para os outros? Ninguém sabe mesmo como sou por dentro. Ninguém sabe por que gosto de escrever. Os meus olhos já não dizem nada, pois fiz um curso de atriz na invernada da vida. Quantas vezes já sorri gemendo de dor por dentro? Quantas lágrimas já sequei na toalhinha manchada dos anos, para me mostrar forte? Talvez nem saiba.
Quantas pessoas me veem como uma abelha vestida de arara, a fim de me livrar de trápolas? A realidade é que eu acho as bruxas lindas, até mais do que as fadas. Para mim a verruga e a vassoura são símbolos escrotos e negligentes às criaturas mágicas que preparam poções para transmitir tranquilidade e amor, muitíssimo antes de ódio.
Quando era pequena, eu ilustrava as bruxas feiosas, com os rostos cadenciados, impuros e maléficos. Sussuro minguado, indicando a vinda de trevas obscuras. Hoje o faço com escrúpulo, por ter descoberto o sorriso das bruxinhas escondido naqueles trajes gigantescos e naquelas fantasias fatídicas. As fadas voam quase desnudas, enquanto as bruxas são discretas e tão irrepreensíveis! Posso te dizer que sou uma bruxa. Se acreditares, preocupação tua. Se eu demonstrar ser o Mickey, tu podes engolir sem engasgar? Ou renegarás o fato?
Só tem mais uma coisa: Não sou de mentir, omito. Nunca direi ser o Mickey, apenas não citarei jamais as pessoas com quem posso ser comparada.
Afogo as comparações: Eu adoro fadas.

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